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o silêncio

Nunca fui uma pessoa matinal. Desde que me lembro, odeio acordar cedo e assim que pude escolher, pedi para ficar no período da tarde na escola. Até a faculdade começava as 13h e quando eu tinha a rotina de estágio que me fazia levantar as 5 da manhã era um terror.

Porém, recentemente eu tenho gostado das manhãs. Comecei aos poucos, levantando meia hora antes do que o necessário, para desinchar o rosto e estar mais disposta para iniciar o dia. Aos poucos fui para 1h mais cedo e agora tenho levantado assim que possível.


Percebi que eu gosto da tranquilidade das manhãs. Gosto do silêncio de começar o dia antes que o fluxo de carros comece na minha rua, antes de ouvir tantos ruídos de vida acontecendo ao redor. Gosto de acordar e não ter tantas mensagens para responder, não ter tanta atividade nas redes sociais.

Por muito tempo, estar acordada em uma casa adormecida me angustiava. Eu nunca fiz questão de companhia, mas precisava saber que tinha mais alguém desperto e vivendo a vida dentro de casa. Os ruídos de vida me tranquilizavam. Hoje, esses mesmos ruídos me angustiam. Não dentro de casa. Dentro de casa eu vejo a paz acontecendo. O problema é fora. Na rua, na cidade, nas redes sociais. Como as redes sociais são barulhentas!

Alguns dias atrás eu fiquei 24h sem postar nada em nenhuma rede social. Foi um marco, um fato raro que não me aconteceu nem durante minhas viagens de férias (o que por si só já é preocupante). Nesse dia, me dei conta do quanto ter postado algo me deixa ansiosa. Me sinto pressionada a entrar nas redes sociais o tempo inteiro para ver se tem alguém que precisa ser respondido, se algo que eu postei gerou alguma repercussão negativa, se tem alguma ação que preciso fazer sobre qualquer coisa online.


No ano passado, quando comprei meu primeiro Smart Watch, descobri uma coisa: muito do que me faz ficar horas no celular é a angústia de saber se tem alguém tentando falar comigo. Tenho tanto medo de deixar as pessoas sem resposta que fico olhando o celular o tempo inteiro. Com o relógio, eu passei a ficar mais tranquila. Eu iria receber uma notificação por ele se alguém precisasse falar comigo e não precisaria checar o celular o tempo todo. Ajuda, acalma. Mas será que eu não devo me perguntar o motivo de sentir que não posso deixar ninguém sem resposta?

Em tempos de redes sociais que nos exigem agir o tempo todo, é engraçado que eu não tenha percebido isso antes. Esses tempos eu programei um conteúdo previamente no Instagram e fui viver a vida. Quando chegou a hora da postagem, minha pretensão era ficar tranquila, não precisar olhar, já que eu tinha programado antecipadamente justamente para não ter que fazer nada. Pois foi só dar o horário programado que o aplicativo me veio com a notificação: "sua postagem foi publicada, responda os comentários na primeira hora". A notificação vinha com algum motivador que não me lembro: se era para manter o engajamento, para a entrega ser maior, não sei e não me importa. Mas lá se foi a minha tentativa de estar nas redes sociais de forma mais leve.


Comecei a manhã de hoje ouvindo um podcast que falava do silêncio de estar fora das redes. As minhas manhãs tem sido assim, quando consigo me manter offline. Na verdade, não necessariamente offline, só fora das redes. Agora são 8:26 da manhã de uma segunda-feira. Acordei lá para umas 7:15 e decidi levantar e começar minha manhã. Nesse período, eu marquei uma consulta médica, organizei minha agenda de trabalho da semana, resolvi pendências com 3 pacientes diferentes, li 4 páginas de um texto que um amigo escreveu, ouvi um episódio de podcast e criei uma página quase completa no meu novo bullet journal. Quando nos perguntamos para onde vai nosso tempo, acho que precisamos perguntar para as redes sociais.

Mesmo agora, com os carros passando na rua e começando a ouvir alguns ruídos da vindo da minha janela, apenas não ter olhado o Instagram já me mantém mais em paz. Não sei o que ninguém está fazendo além de mim mesma. Não preciso pensar em ser adequada para ninguém nem em atender à nenhuma demanda. Só preciso existir e atender às minhas necessidades.

No podcast que ouvi hoje, a apresentadora trazia uma pergunta: o que estamos buscando no celular? A resposta não é difícil e para a maioria das pessoas já está na ponta da língua: distração, sair do tédio, ocupar a cabeça. E o que eu tenho entendido atualmente é que simplesmente nos acostumamos com o celular como a única opção de distração. Eu mesma, que adoro um bom hobby, estou há semanas lutando para achar tempo de finalizar alguns bordados que comecei, mas não fico um dia sequer sem olhar as redes sociais.

Sempre que me perguntam como eu consigo ler, criar conteúdo, cuidar da vida, passear e tudo o mais, eu respondo que é uma questão de prioridade. Quando alguém me diz que na vida adulta, com as responsabilidades da casa, trabalho, família e etc, não consegue tirar um tempinho para ler ou para fazer um bullet journal, eu penso no tempo que essa pessoa está nas redes sociais, já que é ali que ela está me fazendo essa pergunta.


É claro que eu quero que vejam meus conteúdos. Mas você já pensou que no tempo em que está lá rolando o feed o Instagram você gastou horas que poderia estar usando para essas atividades para as quais não encontra tempo? Não digo que há um problema em gastar horas nas redes sociais se isso te faz bem. O ponto é não perceber que temos essa escolha, que podemos decidir onde investir nosso tempo, e que ficar rolando as redes sociais é investir o seu tempo nessa atividade.


Hoje, eu estou me propondo ficar mais comigo mesma. Ficar no silêncio, permitir que minha cabeça descanse um pouco. Quero beber água e sentir ela entrando no meu corpo, quero pegar meu gato no colo e sentir seu calor me esquentando. Quero ler meu livro sem pensar se tem um trecho legal para ser publicado e escolher minha comida sem ligar se ela é bonita para sair em uma foto ou não. Quero terminar meus bordados que estão me esperando há semanas e que me fazem tão bem. Quero publicar esse texto sem ficar relendo milhões de vezes e reavaliando se preciso alterar algum detalhe, sem me preocupar com comentários e detalhes que virão depois. Quero só estar. Quero paz.





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3 comentários


Laila Lafloufa
Laila Lafloufa
10 de jul.

Menina, você falou tudo!! As redes sociais estão ocupando todo o nosso tempo e nem percebemos. Precisamos SIM dar uma silenciada nas redes, nos conectar com o presente, com o offline e não ficar tão ligada no celular a ponto de esquecer a vida real.

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jennifer.romero011
28 de jun.

Você é muito preciosa ❤️

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fernandargsilvaa
25 de jun.

Adorei seu texto e seu blog. Tenho questionado muito sobre o uso de redes sociais também e sobre as distrações. Já tentei sair várias vezes. Mas ainda não consegui.

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